Caio Turqueto afirma que empresa negocia novas aquisições, após compra da CTG para impulsionar entrada no biometano.

Depois da compra da CTG (Companhia de Transporte de Gás), anunciada em abril, a Copa Energia prevê novas aquisições para os próximos meses, segundo Caio Turqueto, presidente da empresa, dona das marcas Copagaz e Liquigás.

Especializada em engarrafamento, comercialização e distribuição de GLP (Gás Liquefeito e Petróleo), de origem fóssil, a Copa vê na chegada da CTG um meio de impulsionar sua entrada no mercado de biometano, o que deve ajudar nos planos de diversificação da matriz energética da empresa em busca de fontes mais limpas para lidar com o novo cenário de aquecimento global.

“Negar a questão climática é um absurdo. Você viu o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Ficamos um mês praticamente com o terminal inundado. Todas as empresas que estavam ali, o estado como um todo, todos sofreram. Isso é uma condição climática. Cessou a chuva, começa a seca, os incêndios no Brasil. E como enfrenta isso? Buscando alternativas em bio”, diz Turqueto.

Além de projetos com hidrogênio e biometano, a Copa espera novos resultados na produção de BioGLP a partir de 2025.

A Copa é uma empresa de GLP, mas tem demonstrado intenção de diversificar a matriz energética com a entrada em biometano e outras fontes de energias renováveis. Em que pé estão esses esforços?

É uma matriz que a gente vem desenvolvendo já há alguns anos. Temos, há quatro anos, uma parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tentando novas fontes energéticas. Com a USP e a UFRJ, estamos desenvolvendo uma matriz de BioGLP. Devemos começar a produzir no fim de 2025 e no início de 2026.

É uma longa estrada. Mas estamos trabalhando. A proposta é ter uma multiplicidade de fontes energéticas, principalmente pela capilaridade que a companhia tem. Isso dá condição de testar vários segmentos, de fornecimento, prospecção de energia.

É inexorável que o clima mudou. Temos de nos preparar para essa nova etapa de vida que vem pela frente. O BioGLP parte do princípio de que o GLP, da matriz de gás, é o menos poluente deles, mas tem uma emissão. Então o BioGLP vem exatamente para neutralizar essa parte de emissão.

A companhia tem se empenhado. E o meio acadêmico é um caminho importante. Os convênios que temos desenvolvido com as universidades têm sido absolutamente proveitosos.

Em emissão de carbono, como esse BioGLP se compara com o GLP tradicional de origem fóssil?

Você neutraliza a emissão de carbono com o insumo agrícola, basicamente massa de torta de cana. Qual é o problema aqui? Não pode ter uma sazonalidade de safra. Então tem que estocar determinados produtos para manter uma linha constante de abastecimento. E esse abastecimento de produto agrícola é o que vai neutralizar o carbono.

Além da cana, vocês trabalham com a fonte de aterro sanitário?

No caso do aterro sanitário, é o biometano. Ele já faz a emissão de gás biometano. O que fazemos é o tratamento desse gás. Há seis meses, a Copa Energia adquiriu a CTG (Companhia de Transporte de Gás). Isso é o primeiro passo para entrarmos na linha do biometano. A CTG faz o papel de um duto virtual.

Aqui, no caso, tem um terminal em Atibaia, onde há uma válvula de drenagem. E ela vai abastecer o duto, a cidade de Campos do Jordão, que é toda dutada, mas não tem uma conexão com o duto físico. Então a CTG carrega esse tanque, pressuriza e descarrega na linha. Ela chega lá, descarrega na cidade e volta para abastecer na linha. É uma maneira de manter a cidade com gás natural que sai ali a 100 km de distância. Isso é o primeiro passo do aprendizado.

A mesma tecnologia se aplica em outros casos, em biometano, biogás. Nós estamos desenvolvendo a trilha aqui.

Estamos também trabalhando com hidrogênio, injeção de hidrogênio na cabeça do pistão dos caminhões de transporte de longa distância, o que tem gerado uma economia de 12% no consumo e reduz a emissão de carbono.

Estamos com várias frentes abertas, não só no gás. Estamos também entrando para o mercado de energia de fato. Estivemos no Chile para conhecer uma unidade de 44 megawatts, que é toda gerada em GLP. Fernando de Noronha, por exemplo, está proibindo o trânsito de veículos com motor a combustão. Só automóvel elétrico. Mas quem gera energia para esse automóvel é uma usina tocada a diesel. Então, não neutraliza nada. A nossa propositura é que a gente possa instalar lá uma base de geração em GLP. Temos várias perspectivas andando.

Há outros planos de aquisição?

Está em andamento, com outras negociações, que devem fechar em alguns meses. Então, provavelmente trabalhando na cadeia de GNL [Gás Natual Liquefeito] também. Enfim, estamos diversificando.

E como está a maturidade da demanda? As empresas consumidoras estão dispostas a pagar por esse apelo ambiental?

Dependendo do produto que você produz ou da empresa que você trabalha, tem a necessidade até de um selo verde. Nós vamos para o efeito da neutralização do carbono. E a empresa vai pagar um prêmio por isso. O desenvolvimento do processo também não é barato. Esse novo projeto que estamos iniciando tem uns R$ 4 milhões orçados só da parte de P&D [pesquisa e desenvolvimento]. Estamos num momento de transição, não só a Copa Energia, o mundo todo.

Como tem avaliado a atual situação climática? A transição energética vai dar conta de tentar reverter esse processo a tempo de evitar algo pior?

Eu acho que ela é mais consequência desse fator do que geradora. Negar a questão climática é um absurdo. Você viu o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Ficamos um mês praticamente com o terminal inundado. Todas as empresas que estavam ali, o estado como um todo, todos sofreram. Isso é uma condição climática. Cessou a chuva, começa a seca, os incêndios no Brasil. Negar que há uma transformação é absurdo. E como enfrenta isso? Buscando alternativas em bio.

O biometano já existe no Brasil mas nunca foi explorado potencialmente. Os aterros sanitários não foram formulados para produzir usina de biometano. Agora, estamos começando a transformar. Todo o mundo começa a olhar com o objetivo de neutralização. Virou um outro negócio, não um simples reparo de lixo.

A empresa tem investido em eletrificação da frota?

Nas pequenas frotas, já estamos com 100% no etanol. Não estamos energizando, porque no nosso mercado de gás tem uma discussão grande sobre risco de incêndio com bateria de lítio. E o nosso produto é um gás inflamável. Então, não temos ideia de colocar na nossa frota ainda, até que se desenvolva uma tecnologia para cobrir esse risco.

Fonte: Folha de São Paulo