María del Carmen Tettamanti contou a seus íntimos que ficou sabendo ao meio-dia de quinta-feira que havia sido indicada para ocupar uma verdadeira cadeira elétrica: a Secretaria de Energia. Poucas horas antes, o ministro da Economia, Luis Caputo, havia solicitado a renúncia de seu agora antecessor, Eduardo Rodríguez Chirillo.

No entanto, o trabalho de Tettamanti durante o segundo semestre de 2023 como assessora na Mesa de Energia da Fundação Pensar, onde reportava a Emilio Apud, a destacou nas conversas que ocorreram durante dois meses entre o próprio Apud e o secretário coordenador de Energia e Mineração, Daniel González, como delegados do ex-presidente Mauricio Macri e do próprio Caputo, respectivamente.

A última reunião entre González e Apud – que também foram cogitados para a Secretaria de Energia – aconteceu na segunda-feira, 7 de outubro. O Ministério da Economia publicou em seu site um comunicado oficial que ninguém se preocupou em divulgar, mas que foi o marco deixado para ser reconhecido como o aperto de mãos final.

O destino de Rodríguez Chirillo e de Tettamanti estava decidido havia pelo menos dez dias. Semanas antes, González havia solicitado ao setor referências sobre Tettamanti.

Esse encontro foi “para analisar a delicada situação do setor energético, afetado pelo desfinanciamento e pela crise herdada”. “Discutiram sobre os desafios atuais e as medidas urgentes para garantir um fornecimento energético estável, e ambos concordaram sobre a importância de implementar soluções que garantam a estabilidade do setor a médio e longo prazo”, relatou então o governo.

A chegada de Macri à Energia foi um compromisso do presidente Javier Milei. É a primeira sobremesa das milanesas com as quais o fundador de La Libertad Avanza (LLA) presenteou o criador do PRO em Olivos. Haverá mais: o ex-presidente busca cargos para seus colaboradores nos setores de Transporte e Trabalho, onde vê falhas e atrasos na gestão.

No entanto, dizem aqueles que acompanharam o processo, Macri não conhece Tettamanti e foi surpreendido por sua nomeação, durante sua estadia em Mar del Plata.

Quem é María del Carmen Tettamanti: perfil

A nova secretária de Energia tem 60 anos, divorciou-se há algum tempo do economista Aldo Abram – diretor Executivo da Fundação Liberdade e Progresso – e “é uma excelente profissional, conhece muito bem o setor de gás”, segundo relatos de quem a conhece. “Ela é respeitada, séria e honesta; o que já é muito para o que temos por aí. Ela tinha vontade de fazer política”, contou uma fonte.

“Darei um passo rumo a um novo destino, desta vez no setor público, pela primeira vez após quase 30 anos trabalhando em empresas privadas na área de energia”, escreveu Tettamanti em sua conta do LinkedIn como carta de despedida para seus colegas da NRG Energía, a empresa de serviços petrolíferos (extração de areia) onde trabalhou até esta semana como gerente geral.

“Colocarei à disposição toda a minha capacidade de trabalho para realizar uma gestão que contribua para o crescimento do setor energético e, com isso, do país. Meu queridíssimo país”, acrescentou.

Economista formada pela Universidade Nacional de La Plata (UNLP), com um mestrado na Universidade do CEMA (UCEMA) e diversos cursos em economia ambiental e energias renováveis, Tettamanti é especialista em gás natural.

Iniciou e quase encerrou sua carreira no setor privado na Camuzzi Gas. Lá começou em 1995 e permaneceu até 2004 na área comercial, onde negociou contratos de abastecimento com as produtoras, o transporte e os clientes industriais, além de tratar de questões tarifárias. Mais tarde, teve duas breves passagens pela Total Austral e Albanesi, até que chegou ao cargo de diretora comercial da comercializadora Gas Meridional e da distribuidora Metrogas.

Em 2017, voltou para a Camuzzi como diretora geral até maio de 2023, quando começou a contribuir com ideias para o PRO – sem ser militante – na campanha presidencial de Patricia Bullrich, hoje ministra da Segurança.

Além disso, em 2017, fundou o empreendimento familiar La Cruz Agro, ligado ao setor agrícola.

Cortes de luz, aumentos tarifários e obras

O primeiro desafio que Tettamanti terá que enfrentar é a iminência de uma crise energética por falta de geração elétrica, que pode resultar em múltiplos apagões durante o verão.

O sistema elétrico está tão pressionado quanto nos anos anteriores devido à falta de investimentos, mas desta vez se soma o fato de que não haverá disponibilidade de importação de energia hidrelétrica do Brasil por conta da seca que afeta o país vizinho.

O governo preparou medidas para mitigar os riscos, embora haja grandes chances de que durante os picos de consumo falte entre 13% e 19% da energia necessária.

Para o futuro, Tettamanti terá que decidir se haverá uma nova licitação para ampliar o parque de geração térmica – uma já estava adjudicada ao final da era Sergio Massa, mas este governo decidiu cancelá-la – e coordenar a desregulamentação do mercado, um objetivo de Milei, mas que antes deve ser complementado com um ajuste nas tarifas, nos subsídios e no Plano Gás, que se encerra apenas em 31 de dezembro de 2028.

Precisamente, como responsável pela área, mas subordinada a Luis Caputo, a secretária de Energia deverá conduzir o processo de Revisão Tarifária Quinquenal (RTQ), que pode apontar para a necessidade de novos e grandes aumentos tarifários para que Edenor, Edesur, Transener, TGS, TGN, Metrogas, Naturgy e a própria Camuzzi possam operar suas redes, mantê-las e realizar investimentos milionários em melhorias.

Os processos são executados pelos órgãos reguladores, mas Caputo definiu a diretriz: não podem afetar o caminho de desaceleração da inflação.

No âmbito fiscal, Tettamanti também terá que coordenar com seus superiores a redução de subsídios para a classe média e para as famílias de baixa renda, que ainda pagam menos de 50% do custo da energia.

Obras e investimentos

Por outro lado, a nova secretária de Energia fará parte do comitê avaliador de projetos que buscam entrar no Regime de Incentivo a Grandes Investimentos (RIGI), como o Oleoduto Vaca Muerta Sul (VMOS), liderado pela YPF mas com a participação de todas as produtoras de petróleo bruto, com um investimento de 2,5 bilhões de dólares.

Também há interesse da Transportadora de Gas del Sur (TGS) com um investimento de 500 a 700 milhões de dólares na ampliação do primeiro trecho do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner (GPNK); e de Profértil e Pampa Energía em plantas de ureia em estudo, que seriam desenvolvidas em Bahía Blanca.

Além disso, resta convocar uma licitação pública com financiamento privado para o segundo trecho do GPNK até Córdoba ou Santa Fé e reativar as obras das represas hidrelétricas em Santa Cruz com financiamento chinês.

Até maio de 2025, devem ser concluídas as estações de compressão para a reversão do Gasoduto Norte, que já tem metade de sua capacidade pronta.

Adicionalmente, o assessor presidencial Santiago Caputo está interessado em acelerar as privatizações de empresas públicas como a Nucleoeléctrica Argentina (Nasa) e os ativos da Energía Argentina (Enarsa).

Fonte: El Clarín