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A estatal malaia Petronas não será mais parte do projeto de construção de uma planta de gás natural liquefeito (GNL) com a YPF, em Río Negro. No entanto, sua substituição trará maior previsibilidade e volume à operação. A anglo-holandesa Shell, a segunda maior operadora de GNL do mundo, anunciou que se unirá como parceira da petrolífera argentina. Além disso, será uma possível compradora de gás liquefeito argentino.

O anúncio já era esperado há alguns meses. Em setembro passado, quando a Shell celebrou 110 anos de presença no país, o presidente da filial local, Germán Burmeister, afirmou que a empresa estava avaliando oportunidades e que a Argentina era um mercado de interesse. Mais tarde, em novembro, o chefe de gabinete, Guillermo Francos, antecipou que a Shell tinha um “forte interesse” em participar do projeto de GNL, após autoridades da empresa visitarem o presidente Javier Milei na Casa Rosada. As negociações com a YPF foram aceleradas quando a Petronas deu sinais de que não continuaria na próxima etapa do projeto para desenvolver a planta de GNL.

“Estamos orgulhosos de que a Shell, líder mundial na produção de GNL, se una ao projeto. Como pioneira no mercado de GNL, o conhecimento e a experiência da Shell serão fundamentais para ajudar a posicionar a Argentina como um fornecedor global de energia confiável e competitivo”, disse o presidente e CEO da YPF, Horacio Marín, em comunicado oficial.

As partes se comprometeram a avançar no desenvolvimento da primeira fase do projeto Argentina LNG até a decisão de entrar na etapa de engenharia e design – Front-End Engineering and Design (FEED). Essa primeira fase terá capacidade de liquefação de 10 milhões de toneladas por ano (MTPA), o equivalente a 47 milhões de metros cúbicos diários de gás (m³/d), cerca de 30% da produção atual da Argentina.

A YPF, por sua vez, confirmou que, com a entrada da Shell no desenvolvimento da primeira fase do ARG LNG, a participação da Petronas como parceira da YPF chega ao fim. “Ambas continuarão trabalhando no desenvolvimento da área La Amarga Chica, em Vaca Muerta. A YPF reconhece a valiosa contribuição da Petronas durante os últimos dois anos, compartilhando com os times da YPF sua experiência técnica e comercial no mercado de GNL. O trabalho conjunto contribuiu para o desenvolvimento do Projeto ARG LNG até sua etapa atual e permitirá novos avanços”, afirmou a empresa.

A planta de GNL representará um investimento total da indústria de cerca de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 20 bilhões correspondem ao desenvolvimento necessário para construir gasodutos de 580 km até uma terminal de processamento e liquefação, que será construída em Sierra Grande, Río Negro, na costa do Oceano Atlântico.

Para conseguir financiamento a taxas razoáveis, a YPF precisará buscar compradores internacionais, assegurando contratos de demanda de um total de 47 milhões de m³/d. Trata-se de um projeto ambicioso, considerando que a Argentina atualmente produz 150 milhões de m³/d no inverno para atender ao mercado interno.

Ao mesmo tempo, a Pan American Energy (PAE) anunciou que contratará um navio de liquefação junto com a empresa norueguesa Golar, que possui a tecnologia necessária para converter o gás ao estado líquido. O navio FLNG Hilli Episeyo, com quase 300 metros de comprimento e uma capacidade nominal de 2,45 milhões de toneladas por ano (MTPA), equivalente a 11,5 milhões de m³/d de gás natural, chegará à Argentina em 2027.

No último mês, uniram-se como parceiras do projeto as empresas Pampa Energía (20% de participação), Harbour Energy (15%) e a própria YPF (15%). A PAE possui 40% e a Golar os 10% restantes.

A Golar também está construindo outro navio similar com capacidade de 3,45 MTPA, que pode estar disponível no final de 2027. Isso poderia ampliar a capacidade de exportação para 27 milhões de m³/d em três anos, o que representa 20% da produção nacional atual.

Entre o aumento das exportações de petróleo e GNL, a YPF calcula que a Argentina poderá exportar o equivalente a US$ 30 bilhões em energia até 2031, valor semelhante ao esperado para a exportação de grãos este ano. Deste total, a petrolífera estatal exportaria entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões.

No cenário internacional, que mudou após a invasão da Ucrânia pela Rússia, maior exportador de gás para a Europa, os países estão buscando diversificar suas fontes de energia e garantir o abastecimento. Nesse contexto, a Argentina tem a oportunidade de oferecer os excedentes de gás gerados por Vaca Muerta. Trata-se de um mercado altamente competitivo, no qual poucas economias possuem a infraestrutura necessária para converter gás natural em líquido. Atualmente, o mercado é liderado por Austrália, Catar, Estados Unidos, Rússia e Malásia.

Com a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, espera-se que os projetos de GNL nesse país sejam acelerados, após terem sido pausados pela administração de Joe Biden devido ao impacto ambiental do venteo de gás. Essa situação pode motivar a YPF a priorizar a chegada de navios de GNL e adiar a construção da planta, que demandará mais tempo e pode deixar o país fora da janela de oportunidade no mercado de gás liquefeito.

Fonte: La Nación