A partir de 10 de abril, a China aplicará uma tarifa recíproca de 84% sobre as importações de produtos dos EUA. Esse aumento foi uma resposta à tarifa de 104% imposta pelos EUA sobre as importações chinesas, que foi posteriormente elevada para 125% pelo presidente Trump em 9 de abril. É provável que a China retalie ainda mais. Ao contrário das tarifas retaliatórias aplicadas pela China em fevereiro (de 10% a 15%) sobre petróleo e GNL dos EUA, desta vez os LGNs e todos os produtos energéticos estão incluídos. Essas tarifas mais altas têm potencial para destruir as exportações de propano e etano dos EUA. No blog de hoje da RBN, analisamos o impacto potencial das tarifas recíprocas da China sobre os mercados de propano e etano.

Como em todas as guerras tarifárias do presidente Trump, esse conflito se intensificou rapidamente. Em 1º de fevereiro, ele assinou a Ordem Executiva 14195, impondo uma tarifa de 10% sobre todas as importações chinesas, que entrou em vigor em 4 de fevereiro. No mesmo dia, a China aplicou uma série de tarifas retaliatórias contra os EUA, incluindo 15% sobre GNL e 10% sobre petróleo. Até então, outros produtos energéticos, como propano e etano, estavam isentos. Mas isso não foi o fim. Em 4 de março, Trump aumentou as tarifas em mais 10%. Em retaliação, a China anunciou uma tarifa de 15% sobre produtos dos EUA. Depois, como parte das proclamações do “Dia da Libertação” em 2 de abril, os EUA aumentaram as tarifas sobre produtos chineses em mais 34%, elevando a tarifa total para 54%. A China respondeu com uma tarifa retaliatória de 34% sobre todos os produtos dos EUA, incluindo petróleo, GNL e todos os produtos energéticos.

A situação voltou a escalar em 8 de abril, quando Trump formalizou um novo aumento de 50% nas tarifas sobre produtos chineses, com vigência a partir de 9 de abril, caso a China não revertesse seu último aumento — elevando a tarifa total para 104%. A China prometeu não recuar. Como prova, anunciou em 9 de abril mais 50% de tarifa sobre importações dos EUA, totalizando 84%. No mesmo dia, Trump suspendeu tarifas retaliatórias para todos os países — exceto a China —, cuja tarifa aumentou para 125%. A China provavelmente aumentará ainda mais sua tarifa retaliatória em 10 de abril.

A China importa pouco petróleo bruto dos EUA, e esses volumes podem ser facilmente redirecionados, com outros países substituindo os barris dos EUA. Também importa pouco GNL ou produtos refinados dos EUA. No entanto, o gás liquefeito de petróleo (GLP – propano e butano) tem papel muito maior, sendo a segunda maior importação da China em valor, superada apenas por produtos eletrônicos.

Assim, as tarifas têm potencial para serem uma força altamente disruptiva nos mercados globais de LGN. Os EUA enviam cerca de 20% de suas exportações de propano para a China. A maior parte é usada na produção de propeno via desidrogenação de propano (PDH). Uma tarifa de 84% sobre o propano dos EUA devastará a economia dos projetos de PDH, forçando a China a cortar drasticamente suas importações. Isso pressionará fortemente os preços do propano nos EUA. A China tentará substituir o fornecimento americano, mas isso exigiria rotas comerciais antieconômicas — viáveis apenas se os preços do propano nos EUA caírem bastante na origem para se manterem competitivos.

O cenário para o etano é ainda mais crítico — pelo menos para a China. As petroquímicas chinesas que usam etano como matéria-prima dependem exclusivamente dos volumes dos EUA. As tarifas tornarão o etano dos EUA antieconômico, e essas instalações terão duas opções: absorver os custos ou fechar. Se houver paralisações, os EUA não conseguirão exportar esses volumes e terão que rejeitá-los de volta para o gás natural. Quase 50% das exportações americanas de etano vão para a China, todas usadas na produção de etileno. Os EUA são o único fornecedor possível de etano para a China, pois são o único país que exporta etano por via marítima.

GLP – Propano e Butano

A China foi o segundo maior importador de propano dos EUA em 2024, com 311 mil barris por dia (Mb/d). O volume de butano foi menor, 26 Mb/d (5% das exportações dos EUA), tornando a China o sexto maior importador de butano americano. O total de exportações de GLP dos EUA para a China foi de 337 Mb/d.

Do ponto de vista da China, ela importou cerca de 1,2 milhão de barris por dia (MMb/d) de GLP, com pouco mais de 35% vindo dos EUA — o maior fornecedor de GLP da China, com larga vantagem. Os Emirados Árabes Unidos ficaram em segundo lugar, com 14%.

A situação atual é muito diferente da de 2018, quando houve outra escalada nas tensões comerciais. Na época, os EUA exportavam 79 Mb/d de propano para a China, o que a colocava como o quarto maior destino. A China retaliou os primeiros aumentos tarifários da era Trump com tarifas sobre uma gama de produtos, incluindo propano. Os compradores chineses, em vez de absorver os custos, reduziram as compras dos EUA e buscaram outros fornecedores. O resultado foi uma queda acentuada nas exportações americanas — em 2019, a China importou apenas 9 Mb/d de GLP dos EUA. O volume era pequeno o suficiente para que o comércio global se ajustasse.

Agora, no entanto, o volume vindo dos EUA é muito grande para ser totalmente substituído. A China importa mais de cinco vezes o que importava em 2018. Isso é especialmente verdadeiro para o mercado de PDH chinês, que consome a maior parte do propano importado. Quase todo o propeno produzido nessas plantas vira polipropileno, e são necessárias 1,32 libras de propano para produzir 1 libra de polipropileno.

Economia do Propano

A China calcula as tarifas com base CIF (Custo, Seguro e Frete). Em 8 de abril, o preço do propano Mont Belvieu non-TET era 73,9 c/gal (centavos por galão), segundo a OPIS. A taxa de terminal gira em torno de 5 c/gal. As taxas de frete estavam por volta de US$ 88,5/ton, o que equivale a 17 c/gal. Com todos esses custos, o custo total entregue na China seria de 176,5 c/gal, e a tarifa de 84% adicionaria 80,6 c/gal. Isso aumentaria o custo de produção de propeno em 22,8 c/lb (67%) e o de polipropileno em 25 c/lb (60%).

A pergunta é: quem absorve esse custo? Os EUA precisam exportar seu propano para evitar acúmulo e queda nos preços. Se isso acontecer, os preços cairão tanto que a tarifa se tornará irrelevante ou novos compradores surgirão. Por outro lado, a China precisa desse propano para manter a demanda de polipropileno, então parte do poder de mercado continua com os compradores chineses.

Isso significa que o aumento de custo será compartilhado entre os agentes de mercado. Os preços nos EUA podem cair, e os compradores chineses podem pagar mais para manter o fluxo. O mercado de transporte marítimo também será afetado, caso as rotas comerciais mudem para rotas menos eficientes.

Tudo isso assume que os produtores de polipropileno consigam repassar os aumentos no custo, o que depende também se os fabricantes de bens de consumo absorverão os custos da matéria-prima. E se esses produtos forem exportados de volta para os EUA, serão adicionadas tarifas de 125%. Quem pagará por isso? A resposta exige economistas, mas o resultado é: produtos mais caros.

No futuro, se as tarifas forem resolvidas, espera-se que a ligação comercial entre EUA e China no mercado de propano se intensifique. Antes da guerra comercial, a China planejava adicionar 11,5 milhões de toneladas/ano de capacidade de PDH até 2030 — o equivalente a 25 bilhões de libras/ano de propeno, ou 470 Mb/d de demanda adicional por propano. Só os EUA têm oferta crescente o suficiente para atender essa demanda.

Etano

A história do etano é mais simples, mas o impacto é maior. A China importa todo seu etano dos EUA, e não há alternativa marítima. A maioria das novas plantas químicas chinesas que usam etano não tem flexibilidade de matéria-prima — ou rodam com etano dos EUA, ou param.

Os EUA exportam quase 500 Mb/d de etano, sendo 227 Mb/d para a China — quase 50%. A China começou a importar etano em 2019. Com novos terminais (Enterprise, Energy Transfer) e mais navios-tanque, a capacidade americana deve crescer 700 Mb/d só em 2025.

A decisão da China dependerá do custo do etileno feito a partir do etano. Hoje, o etano dos EUA custa cerca de 27 c/gal. Se incluirmos frete e terminais (estimados em 13,5–14,8 c/gal), a tarifa de 84% leva o custo final para 76 c/gal. Dado o preço da nafta na Ásia (~US$ 540/ton), a produção de etileno a partir do etano dos EUA fica bem mais cara do que a partir da nafta — desde que essa nafta não venha dos EUA.

A menos que o preço do etano americano caia muito, operar com etano nos crackers chineses será inviável. Pode haver “rejeição de etano”, mas os chineses podem aceitar pagar mais para manter as plantas funcionando.

A guerra de tarifas entre China e EUA está longe do fim — e os impactos sobre os mercados de GLP e etano serão sérios. Estamos diante de um dos momentos mais turbulentos para os LGNs.

Fonte: RBN Energy