O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, identificou o comércio e as tarifas como uma de suas principais estratégias para pressionar os governos da América Latina e do Caribe (ALC) em seus planos de deportação em massa e combate às drogas.

O plano de Trump – conforme indicado desde sua campanha – prevê a imposição de tarifas de 60% sobre as importações da China, além de 25% sobre as do Canadá e do México, como forma de pressionar por medidas que reduzam a migração irregular e o tráfico de drogas, em meio à crise do fentanil que o país enfrenta.

Os EUA são o principal parceiro comercial da América Latina e do Caribe, motivo pelo qual as pressões tarifárias têm se mostrado eficazes para Trump em suas primeiras semanas de governo.

As exportações de bens da América Latina e do Caribe para os Estados Unidos em 2023 somaram US$ 611 bilhões, enquanto as importações da maior economia mundial para a região nessa mesma categoria totalizaram cerca de US$ 486 bilhões, de acordo com os dados mais recentes da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

No entanto, o déficit comercial dos EUA em bens com a região aumentou nos últimos dez anos. “Após uma breve melhora em 2021, o déficit comercial de bens com a ALC piorou em 2023, atingindo US$ 125 bilhões”, segundo o relatório United States Trade Developments 2024, da Cepal.

Um dos temas mais relevantes para a região é a combinação de duas forças que impactam os objetivos de Trump: “por um lado, o controle da migração e, por outro, a redução da influência da China”, afirmou o analista financeiro Gregorio Gandini à Bloomberg Línea.

Os EUA são considerados o principal destino das exportações latino-americanas de serviços, sendo o mercado em que essas exportações mais cresceram entre 2005 e 2021 (média anual de 6,3%). Em 2021, os EUA absorveram 49% das exportações de serviços da região, um aumento de oito pontos percentuais em relação a 2005, segundo a Cepal.

A dependência comercial da América Latina em relação aos EUA varia, indo desde 81% do total das exportações mexicanas destinadas ao país até cerca de 10% das exportações brasileiras, à medida que o comércio do Brasil se expande em direção à China, segundo dados do grupo financeiro Credicorp.

Na região, há casos como o da Colômbia, que concentra uma grande parte de suas exportações em um único destino: até novembro de 2024, 29% de suas vendas externas foram direcionadas aos Estados Unidos.

Mas há também exceções, como o Haiti, considerado o país mais pobre das Américas, cuja dependência das exportações para os EUA é de 84,2%, conforme dados de 2022 do Observatório de Complexidade Econômica (OEC), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Um caso particular é o do Brasil, a maior economia da América Latina, que em 2008 viu os Estados Unidos deixarem de ser seu principal parceiro comercial, sendo substituídos pela China. “Isso demonstra que a diversificação de mercados é possível”, afirmou Gandini.

Por sua vez, a Argentina mantém “uma das economias mais fechadas do mundo”, com um grau de abertura comercial (exportações mais importações sobre o PIB) de apenas 20%, explica Alejandro Arroyo Welbers, diretor da Especialização em Comércio Internacional da Universidade Austral. Esse valor é significativamente menor que a média da América Latina (42%) e dos países desenvolvidos (mais de 80%).

Além disso, a oferta exportável da Argentina é pouco diversificada, concentrando-se em commodities agrícolas. “Precisaríamos ter o triplo ou o quádruplo do que temos hoje em exportações”, apontou Arroyo.

O principal parceiro comercial da Argentina é o Brasil desde 1991, e em 2024 o país enviou 17% de suas exportações para o gigante sul-americano, segundo um relatório de Emilce Terré, Guido d’Angelo e Bruno Ferrari, pesquisadores da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR).

Na América Latina, os bens primários representam cerca de 56% das exportações para o mundo, incluindo alimentos, produtos vegetais, hidrocarbonetos e matérias-primas, de acordo com dados compilados em um artigo da McKinsey.

As principais exportações dos Estados Unidos para o mundo incluem petróleo refinado e bruto, gás liquefeito de petróleo, automóveis e circuitos integrados.

O México é o principal parceiro comercial dos EUA no mundo, representando 15,7% do comércio total de bens com o país.

Na América Latina, os principais parceiros dos EUA são Brasil (1,6%), Chile e Colômbia (ambos com 0,7%), seguidos por Peru, República Dominicana e Costa Rica (todos com 0,4%).

Os EUA também são um exportador líquido de serviços para a América Latina, segmento que representou 11,4% do comércio total da região em 2023.

O México lidera o comércio de serviços na região, contribuindo com 5% do comércio total de serviços dos EUA, seguido pelo Brasil (menos de 2%).

A Cepal indicou em 2023 que o comércio entre China e América Latina e o Caribe multiplicou seu valor por 35 neste século. No período de 2020-2022, a China representou, em média, entre 30% e 37% das exportações totais de bens do Brasil, Chile e Peru.

Enquanto isso, o valor das importações entre os principais parceiros teria crescido 7% ao ano em 2024 para as compras vindas da China e 4% para as da União Europeia, enquanto as importações dos EUA teriam caído 1%.

Definitivamente, “a concentração (das exportações em um único destino e produto) não é a melhor opção. É por isso que o trabalho de abertura de novos mercados para novos produtos deve ser um esforço constante dos governos”, destacou Gandini.

Segundo Arroyo Welbers, a diversificação das exportações na região deve ser analisada caso a caso, pois, em mercados como a Argentina, é necessária a redução da carga tributária e a eliminação de direitos de exportação.

Na sua visão, diversificar as exportações não significa apenas aumentar o número de países de destino, mas agregar valor aos produtos exportados e ampliar a oferta com bens industriais e tecnológicos, indo além das commodities tradicionais.