Por Mark Rachal – LP Gas Magazine

Vamos discutir a diferença entre negociar e fazer hedge na indústria do propano.

Sou analista na indústria de propano. Não vendo propano para consumidores finais. Portanto, nunca poderei ser um operador que faz hedge de propano. Só posso atuar como trader ou especulador de propano. Posso usar meu conhecimento sobre o setor e minha análise para fazer apostas sobre o movimento dos preços do propano, mas a única maneira de uma posição ser benéfica para mim é se os preços se moverem na direção que previ, permitindo-me lucrar com a negociação em si.

Posso assumir uma posição long em contratos futuros de propano, apostando que os preços vão subir; ou seja, compro o produto agora esperando que o preço aumente para vendê-lo no futuro com lucro.

Ou posso vender a descoberto (short) a commodity, caso acredite que os preços vão cair. Nesse caso, comprometo-me a vender uma quantidade específica da commodity em uma data futura a um preço determinado, mesmo sem ainda possuí-la ou ter uma posição financeira sobre ela. Quando chegar o momento de cumprir minha obrigação, espero poder comprar a commodity por um preço menor do que o valor previamente acordado, obtendo lucro.

Como trader de propano, a volatilidade geralmente é minha aliada. Ela me dá oportunidades de assumir posições e lucrar com elas rapidamente. O tempo, por outro lado, costuma ser o inimigo do trader. Quanto mais distante estiver o horizonte de previsão dos preços, mais difícil será acertar. Traders geralmente se saem melhor assumindo posições de curta duração e realizando diversas operações.

Resumindo: traders só se beneficiam quando lucram com suas posições. Costumam realizar muitas negociações, geralmente de curta duração. Volatilidade costuma ser sua amiga, e o tempo, seu inimigo.

Em contraste, uma empresa que faz parte da cadeia de suprimento e entrega propano ao consumidor final pode ser um hedger. Um hedge é uma ação desenhada para neutralizar a volatilidade de preços de uma commodity.

Fazer hedge deve ser benéfico mesmo quando a operação em si dá prejuízo. Nesse sentido, funciona como um seguro. Oferece tranquilidade mesmo quando não é necessário acionar a cobertura.

O hedge também estabelece riscos dentro de parâmetros aceitáveis. Por exemplo, o risco de um seguro é o valor do prêmio e da franquia. Aceitamos esse risco administrável (despesa) em vez do risco de o nosso negócio ser destruído por um tornado.

Um revendedor de propano que faz hedge está basicamente transferindo o risco de alta dos preços futuros em troca da renúncia à possibilidade de comprar mais barato no futuro. Ele também deve administrar o risco de queda dos preços, estabelecendo proteção (hedge) quando as condições de mercado forem favoráveis.

Como já discutimos muitas vezes, acreditamos que o risco de um revendedor de propano estar ligeiramente acima do preço médio em um cenário de preços baixos é muito menor do que o risco de transferir integralmente ao consumidor o impacto de preços altos.

Se um revendedor estiver ligeiramente mais caro por causa do hedge em um período de baixo preço e, provavelmente, de baixo volume, é muito menos provável que seus clientes busquem alternativas. Por outro lado, quando o revendedor repassa todo o impacto de preços altos, especialmente em períodos de alta demanda, os consumidores recebem contas elevadas — e esse “choque” pode levá-los a procurar outro fornecedor ou até outra fonte de energia. O hedge, para o revendedor de propano, é uma forma de gestão de risco.

O objetivo do hedge não é lucrar com a operação em si. Seu propósito é eliminar incertezas quanto ao custo da commodity a ser vendida. O lucro de um hedger que entrega fisicamente o propano ao consumidor final virá da margem entre o custo de suprimento e o preço de venda, e não da negociação da commodity.

Mesmo que um operador comercial obtenha ganho com o hedge, não se deve entender que ele “lucrou com o hedge”, e sim que o hedge ajudou a garantir a margem desejada no seu negócio principal — a venda de propano ao consumidor.

Há muitas ações que um revendedor de propano pode tomar para aumentar sua lucratividade na cadeia de suprimento. Por exemplo:

  • Manter adequadamente seus equipamentos para prolongar sua vida útil.

  • Contratar bons profissionais com alta produtividade.

  • Reduzir o custo de suprimento comprando quando o mercado oferece preços abaixo da média.

  • Aumentar o valor percebido do serviço para poder cobrar mais, oferecendo diferenciais como atendimento ao cliente, confiabilidade, previsibilidade e flexibilidade.

Revendedores que usam instrumentos como swaps, opções e compras antecipadas (pre-buys) têm, geralmente, três objetivos principais:

  1. Proteger os clientes do impacto total de altas nos preços, aumentando as chances de retenção.

  2. Oferecer preços previsíveis, reduzindo a incerteza para o consumidor.

  3. Aumentar o lucro nas vendas sem elevar o preço final.

Note que não mencionamos “lucrar com operações ao acertar o movimento de preços de uma commodity”.

Hedgers frequentemente se beneficiam de posições de longo prazo, especialmente quando conseguem garantir custos de suprimento abaixo de benchmarks históricos, como a média de 10 anos do preço do propano. Isso reduz o risco de queda de preços.

Como discutimos na semana passada, a melhor oportunidade muitas vezes é travar o preço de suprimento para dois ou três anos à frente. Pense no benefício disso para o revendedor de propano: nesse período, quase tudo ficará mais caro — menos o custo do suprimento, que já foi garantido.

Volatilidade não é amiga de quem está na cadeia de suprimento do propano, e, portanto, não é amiga do hedger. O hedger está justamente tentando administrar essa volatilidade. Seja perfurando poços, fracionando líquidos de gás natural ou entregando propano ao consumidor, a volatilidade nos preços dificulta o trabalho e as decisões de todos os envolvidos. Por isso, todos os segmentos da cadeia buscam reduzir essa volatilidade — e o hedge é parte dessa estratégia.

Transformar preço futuro incerto em um valor conhecido facilita o planejamento, o marketing e a tomada de decisão.

Uma posição de swap geralmente representa duas partes da cadeia de suprimento trocando riscos, permitindo que ambas operem com mais segurança e previsibilidade, o que melhora o desempenho geral da cadeia.

Como revendedor de propano, ao fazer hedge com um swap, normalmente não se sabe quem é a contraparte final, já que se negocia através de um intermediário. Esse intermediário se relaciona com diversos agentes da cadeia. Produtores sofrem com queda de preços, enquanto revendedores e consumidores sofrem com altas.

O swap permite que dois membros da cadeia troquem riscos, beneficiando ambos. Por exemplo, um fracionador se beneficia por saber quanto receberá pelo propano que irá produzir. Já o revendedor e os consumidores se beneficiam ao saber quanto pagarão, caso os preços subam.

Quando um swap é realizado, é estabelecido um preço de exercício (strike price). Suponha que não exista um intermediário entre o fracionador e o revendedor. O swap é feito diretamente. O fracionador se compromete a vender o propano por um preço futuro, e o revendedor concorda em comprá-lo. Se os preços caírem, o fracionador sofre. Estabelecer um preço mínimo através do swap é benéfico para ele. Se os preços subirem, o revendedor e os consumidores sofrem — por isso, conhecer o preço máximo que pagarão é benéfico.

O preço de exercício do swap é um valor pré-determinado para o propano no futuro, que dá previsibilidade de preços para ambas as partes da cadeia, beneficiando-as. O hedge transforma incertezas em certezas para ambos os lados da transação.

Quando um revendedor faz um pagamento porque os preços do propano ficaram abaixo do strike, esse valor provavelmente vai para um agente a montante da cadeia. E quando ele recebe um pagamento porque os preços superaram o strike, o dinheiro geralmente vem de um agente a montante.

Hedge não é trading. É gestão de riscos associados à volatilidade dos preços de uma commodity. A volatilidade quase sempre prejudica todos os membros de uma cadeia de suprimento. Swaps frequentemente permitem que agentes da cadeia troquem ou neutralizem riscos. Isso torna a cadeia mais segura, eficiente, previsível e confiável.

Por Mark Rachal – LP Gas Magazine