Em menos de uma semana, o governo da 4T (Quarta Transformação) conseguiu algo que parecia impossível: reunir três crises simultâneas que representam uma séria ameaça à estabilidade nacional.

Estão em curso, ao mesmo tempo, uma greve de professores, cujas marchas e bloqueios de avenidas paralisam a vida de milhões de pessoas no coração do país; uma iminente paralisação nacional dos distribuidores de gás, sufocados por uma sobrerregulação que inclui o controle artificial do preço do combustível; e um protesto crescente de cidadãos que consideram que a eleição popular de juízes ameaça enfraquecer a independência do Poder Judiciário.

As três crises merecem, evidentemente, atenção urgente. No entanto, pouco se tem discutido sobre as causas e possíveis consequências da crise do gás LP, não apenas pelo impacto direto da paralisação anunciada para a primeira semana de junho — que poderá interromper o fornecimento do energético a milhões de lares, indústrias, comércios e serviços —, mas também pelo contexto político que a alimenta.

Desde 2021, o governo mantém um teto artificial para o preço do gás LP, com a intenção inquestionável de proteger a economia das famílias. No entanto, sem considerar que, após quase quatro anos, os aumentos salariais, os custos com combustíveis, logística e manutenção, somados à política de preços engessada e à camisa de força regulatória, deixaram os distribuidores à beira do colapso financeiro, enquanto os postos de gasolina e diesel operam com preços livres e ajustáveis.

A Associação Mexicana de Distribuidores de Gás Liquefeito e Empresas Conexas (AMEXGAS) atribui a responsabilidade por essa crise à secretária de Energia, Luz Elena González Escobar, que, segundo a entidade, tem se mostrado intransigente diante dos apelos ao diálogo feitos pelo setor de gás.

Mas mais preocupantes do que a sua “surdez burocrática” — como a classificam — seriam os interesses políticos e pessoais que estariam por trás dessa postura.

O objetivo oculto, segundo denuncia a AMEXGAS, seria provocar o colapso das companhias tradicionais de gás LP para abrir espaço a novos operadores alinhados ao “obradorismo”, controlados por amigos e aliados políticos, que já estariam se posicionando como intermediários estratégicos no setor.

Se essa movimentação for confirmada, estaríamos diante de uma das operações de desmonte econômico mais graves da história recente, disfarçada de política social; diante da transformação de um bem público em espólio político, e da intenção de controlar o fornecimento doméstico de gás como instrumento de poder e clientelismo.

Dito de outra forma: uma “expropriação suave”, sem decretos oficiais, mas com o mesmo efeito: afastar os agentes tradicionais e colocar aliados no comando.

Se o governo da 4T continuar acumulando conflitos não resolvidos (professores, distribuidores de gás, juízes, agricultores, transportadores), sua legitimidade não ruirá por uma grande causa, mas sim pela soma de todas as pequenas traições ao senso comum.

Quando se prioriza a política de facção em detrimento do bem comum, não se transforma a nação — se destrói sua estrutura.

Raúl Rodríguez Cortés

Fonte: El Universal