Passadas duas semanas do encerramento do exitoso 37º Congresso da AIGLP, refletimos sobre os temas discutidos e sua relevância contínua para o futuro da indústria de GLP na América Latina.
Regulação Econômica
A regulação econômica é um componente crítico da indústria de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), pois desempenha um papel significativo na promoção da concorrência leal, proteção dos consumidores e garantia da qualidade do produto. A indústria de GLP é complexa, com diversos stakeholders, incluindo produtores, distribuidores, revendedores e consumidores. Portanto, uma regulação eficaz é necessária para manter um equilíbrio saudável entre todos esses interesses.
Essa importância, na indústria de GLP, é amplificada devido à natureza essencial do produto. O GLP é uma fonte de energia crucial para milhões de lares na América Latina, usado para cozinhar, aquecer, na mobilidade urbana e na geração de energia. Garantir o fornecimento constante, a preços acessíveis é, portanto, de suma importância.
Um aspecto fundamental do papel do regulador é entender quando a intervenção é necessária e quando não é. Nem todas as situações exigem ação regulatória. Às vezes, a melhor abordagem é permitir que o mercado siga seu curso. As flutuações temporárias de preços, por exemplo, não necessariamente exigem alterações estruturais nas regras de regulação.
Além disso, é importante notar que a desigualdade de renda, que pode dificultar o acesso ao GLP para uma parte significativa da população, não deve ser abordada como um problema inerente à estrutura produtiva do setor de GLP. Essa é uma questão social mais ampla que deve ser tratada por meio de políticas públicas e não revisões regulatórias.
Finalmente, é importante ressaltar que o GLP, por sua periculosidade, não aceita experimentações. Qualquer alteração na regulação econômica deve ser tratada com muita seriedade e deve passar por crivos exaustivos de estudos, análises econômicas, comparações e simulações de modelos diversos, verificando suas falhas e virtudes, e a qualidade do serviço e a segurança devem ser prioridades, garantindo assim uma oferta confiável e segura de GLP para os consumidores na nossa região.
Cenários de demanda e oferta
A transição energética na América Latina passa, obrigatoriamente, pelo GLP. A retórica atual nos leva a pensar que teremos, em um futuro próximo, um fornecimento de energia gerado exclusivamente a partir de fontes renováveis, como energia solar e/ou eólica. No entanto, nossa realidade regional é a de milhões de pessoas utilizando fontes de energia rudimentares como a lenha, carvão e querosene.
Essa disparidade de realidades que existe no mundo, nas etapas da transição energética, ressalta um ponto crucial nesta discussão: não existe solução única para todos.
Como diz um dos mais respeitados especialistas da indústria de GLP da América Latina, Adrian Calcaneo, se é verdade que a transição da energéticos rudimentares (lenha, carvão, querosene etc.) para o GLP não é uma solução perfeita, ainda assim representa passos significativos para reduzir o impacto ambiental e melhorar a saúde pública em países da nossa região. Esperar para fazer a transição para uma energia 100% limpa é obrigar milhões de pessoas, especialmente nas camadas mais vulneráveis, a continuar sofrendo os efeitos do uso das fontes de energia rudimentares, prejudicando sua saúde e o meio ambiente.
Concluindo, nosso cenário é de uma indústria que cresce e o GLP, em nossa realidade regional, terá demanda por muitos anos por ser uma fonte de energia versátil e confiável que pode ser facilmente acessada, mesmo em áreas remotas onde outras formas de energia não estão disponíveis.
Combate à pobreza energética
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,3 bilhões de pessoas no mundo não tem acesso adequado a fontes confiáveis e acessíveis de energia para cocção, como, por exemplo, o GLP. Ainda segundo a OMS, na América Latina a lenha é fonte primária para cocção para mais de 60 milhões de pessoas, causando morte prematura de milhares de pessoas, especialmente mulheres e crianças. Além disto, os custos financeiros associados às doenças relacionadas à poluição causada pela utilização de lenha para cocção atingem a ordem de bilhões de dólares por ano.
Ou seja, a pobreza energética é um problema real cuja solução envolve o empenho dos governos, que por meio de políticas públicas eficientes e bem direcionadas, podem e devem encontrar soluções aceitáveis. Tais políticas precisam não apenas ampliar o acesso à energia, mas também garantir sua sustentabilidade e acessibilidade financeira. Neste sentido, segundo estudo publicado em julho de 2023 pela IEA, o GLP continua sendo a solução primária para fornecer acesso a cozinhas limpas.
Sua capilaridade faz com que chegue a lugares remotos onde as redes de distribuição de energia elétrica ou gás natural não alcançam. Sua portabilidade permite ser facilmente transportado e instalado, não exigindo uma infraestrutura complexa ou invasiva para a instalação. Isso significa que as famílias podem ter acesso a uma fonte de energia confiável e versátil sem a necessidade de grandes investimentos em infraestrutura.
Investimentos em terminais
A segurança jurídica e regulatória é fundamental para criar um ambiente propício aos investimentos de longo prazo. Infraestruturas como terminais de GLP requerem investimentos substanciais e um horizonte temporal considerável para obter retornos satisfatórios. Portanto, os investidores precisam ter confiança de que as regras do jogo permanecerão estáveis ao longo do tempo.
Um dos principais desafios enfrentados na América Latina é a volatilidade política e as mudanças frequentes nos regimes regulatórios. Trocas de governos muitas vezes resultam em alterações nas políticas e regulamentações, o que gera incerteza para os investidores. Essa instabilidade pode afastar potenciais investidores, prejudicando o desenvolvimento do setor de GLP na região.
É essencial que os governos reconheçam a importância da segurança jurídica e regulatória para atrair e manter investimentos em terminais de GLP. Políticas consistentes e transparentes proporcionam um ambiente favorável aos negócios, incentivando o crescimento do setor e impulsionando o desenvolvimento econômico.
Inovação na indústria
A nossa indústria está em constante evolução, impulsionada por um compromisso contínuo com a inovação. Em um mundo onde a tecnologia está transformando rapidamente todos os setores, a indústria de GLP não é exceção e a inovação tem sido utilizada, de forma crescente, para melhorar a experiência do consumidor, os métodos de pagamento e a logística de entrega.
Nossas empresas estão constantemente buscando maneiras de tornar o processo de compra e uso do gás mais conveniente e eficiente para os clientes. Isso inclui desde a introdução de novas tecnologias de monitoramento de estoque até a implementação de sistemas de atendimento ao cliente mais ágeis e responsivos.
Com a crescente popularidade de pagamentos digitais e móveis, o setor vem adotando novas soluções que tornam mais fácil e seguro para os clientes adquirirem seus cilindros de gás.
Na logística de entrega, com a crescente demanda, as empresas estão buscando maneiras de otimizar suas operações para torná-las mais eficientes e econômicas. Isso inclui desde o uso de algoritmos avançados de roteamento até a adoção de veículos mais ecológicos e eficientes em termos de combustível.
No futuro, a adoção de dispositivos IoT (Internet das Coisas) podem trazer novas oportunidades e eficiências para o setor, permitindo, até mesmo, que as empresas prevejam e respondam às necessidades dos clientes de forma mais eficaz.
Conclusão
O 37º Congresso da AIGLP proporcionou uma visão abrangente das oportunidades e desafios que aguardam a indústria de GLP na América Latina. Com um compromisso renovado com a inovação, regulação eficaz e investimento em infraestrutura, a indústria está bem-posicionada para continuar desempenhando um papel crucial no fornecimento de energia confiável e acessível para milhões de pessoas em toda a região.