Por: AMYLKAR D. ACOSTA – Ex-ministro de Minas e Energia e membro da ACCE.
Em 2024, o ministro de Minas e Energia, Andrés Camacho, afirmou, contra todas as evidências, que não havia escassez de gás, pois as quantidades disponíveis para venda nos campos nacionais “são suficientes para atender a totalidade da demanda”.
No entanto, o Gestor do Mercado de Gás, em seu Relatório Anual de 2023, indicava que “a partir de 2025, a projeção da demanda cresce acima do potencial de produção”, estimando um déficit de 12% (120 MMPCD) para 2025 e de 30% (350 MMPCD) para 2026. Esse déficit precisará ser coberto por importações.
Ao negar a escassez, contrariando os dados, o ministro argumentou que “alguns agentes estão contratando mais gás do que realmente precisam”.
Ele chegou a ameaçar sancionar os supostos “acaparadores”, mas, como diria o poeta León de Greiff, tudo passou sem que nada acontecesse. O ministro também descartou a necessidade de importar gás natural para atender à demanda essencial (doméstica, comercial, industrial e veicular). No entanto, quando as primeiras importações de 40 MMPCD foram efetivadas em 1º de dezembro de 2024, ele afirmou que essas compras eram apenas para que as empresas tivessem “reservas”, a fim de “se resguardarem caso necessário”.
Na época, garantiu que não havia motivos para preocupação quanto ao impacto dessas importações nos preços do gás natural, mas os fatos agora o desmentem.
Diversas empresas comercializadoras de gás natural, como VANTI, EPM e EFIGAS, já anunciaram aumentos significativos nas tarifas, que variam entre 20% e 36% e serão repassados às faturas de fevereiro.
O ministro Camacho reagiu alegando que “temos gás. Os aumentos tarifários são injustificados”, pois “temos gás disponível, o abastecimento está garantido. Com a disponibilidade atual, o fornecimento deveria estar totalmente coberto a custos eficientes”.
Se essa declaração fosse verdadeira, seria absurdo que as empresas comercializadoras decidissem importar gás a preços exorbitantes quando ele estaria “disponível” no país a “custos eficientes”.
Chama a atenção o fato de que, apesar de negar a necessidade de importações, o ministro assinou o Decreto 1467 de 2024, em 10 de dezembro, estabelecendo diretrizes para a importação de gás.
Além disso, ele foi além ao ameaçar as empresas com investigações pela Superintendência de Serviços Públicos sobre o “comportamento dos agentes”.
O próprio presidente Gustavo Petro se manifestou em sua conta no X, acusando as empresas de “especulação”. Ele também declarou que a ECOPETROL “tem gás colombiano barato, mas querem importar gás caro, porque isso eleva as tarifas de energia para todos os consumidores do sistema elétrico”, e pediu que a Superintendência tomasse providências.
O gás da ECOPETROL, maior produtora do país, que segundo o ministro Camacho “iniciou um processo comercial de venda de gás natural disponível”, foi mencionado em um boletim da estatal petrolífera, divulgado pela Presidência da República.
Mas, ao ler nas entrelinhas, fica claro que a empresa se compromete apenas com o abastecimento de gás natural para garantir um fornecimento estável nos próximos três anos, sem fazer referência ao ano de 2025.
Segundo John Jairo Contreras, vice-presidente de Grandes Clientes da VANTI, “estamos vendo um aumento no custo do serviço público porque os contratos que utilizamos nos últimos anos venceram em novembro de 2024. Os campos tradicionais do Piedemonte Llanero estão reduzindo sua produção, e tivemos que buscar outras fontes… Essas fontes estão na costa do Caribe, o que encarece o gás devido à mudança da origem, que agora é majoritariamente importado, além dos custos adicionais de transporte”.
É evidente que o gás importado é mais caro do que o produzido internamente. Enquanto o preço do primeiro gira em torno de US$ 18 por MMBTU, o gás nacional custa aproximadamente US$ 5 por MMBTU.
Resta saber se essa suposta investigação contra os “acaparadores” não será apenas mais um episódio semelhante ao que ocorre no setor elétrico, onde o próprio presidente Petro acusa as geradoras de inflacionar os preços da energia e “explorar o bolso da população”. Contudo, até agora, não há registros de investigações ou sanções por esse motivo.
As declarações inflamadas do ministro Camacho não passam de bravatas, servindo apenas como cortina de fumaça para escapar da crise.
Diante desse cenário crítico, o governo deveria refletir e reconsiderar sua decisão de descartar novos contratos de exploração e produção de hidrocarbonetos. O que deixar de ser feito agora terá consequências nos próximos anos, agravando o risco de desabastecimento e comprometendo seriamente a segurança e a soberania energética do país.
Fonte: Guia del Gas