Desde 2021, a margem das distribuidoras despencou mais de 50%. Sem incentivos para investir ou operar, ao menos 40 plantas já foram fechadas.
Diante das novas políticas públicas aplicadas ao GLP, gerou-se uma situação crítica que acendeu alertas em toda a região. Por esse motivo, a Associação Ibero-Americana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP) se viu obrigada a solicitar uma revisão urgente do modelo atual.
Em entrevista ao Surtidores Latam, Fabricio Duarte, diretor executivo da AIGLP, alertou que “o problema do GLP no México vai além do setor empresarial: está em jogo o acesso de milhões de pessoas a uma fonte de energia limpa, segura e acessível”. Em sua visão, o desafio está em encontrar o equilíbrio entre a proteção ao consumidor e a sustentabilidade operacional do sistema de distribuição. A AIGLP, que reúne os principais atores do setor na América Latina, trabalha há anos no fortalecimento de políticas públicas que assegurem mercados eficientes, competitivos e seguros.
Um dos pontos mais críticos surgiu em 2021, quando o governo mexicano implementou um esquema de preços máximos para o GLP, com base em um relatório da Comissão Federal de Concorrência Econômica (COFECE). A medida buscava combater a falta de concorrência, mas acabou gerando consequências não previstas: uma forte redução nas margens das empresas distribuidoras, a ponto de hoje se estimar que cada litro vendido gera apenas 2,68 pesos de lucro, quando seriam necessários ao menos 4,25 pesos para operar com segurança.
Essa compressão provocou o fechamento de pelo menos 40 plantas em estados como Jalisco, Veracruz, Puebla e Tamaulipas, impactando diretamente cerca de 135 empresas, que representam 90% da distribuição formal, e resultando na perda de milhares de empregos. Além disso, o desestímulo ao investimento deteriorou a infraestrutura logística e paralisou iniciativas como a renovação de botijões, modernização de frotas e adoção de tecnologias mais limpas.
Segundo Duarte, o GLP é uma commodity global, cujo preço depende de variáveis internacionais como oferta e demanda globais, preço do petróleo bruto, logística internacional e volatilidade cambial. Estabelecer preços internamente, sem considerar essas variáveis, condena o setor a operar com prejuízo. Como consequência, há risco de desabastecimento, retrocesso energético e aumento da informalidade.
O setor, que percorre mais de 60 milhões de quilômetros por mês para garantir o fornecimento em todo o país, enfrenta custos elevados com combustível, manutenção, seguros e salários. Nesse cenário, o congelamento de preços representa uma equação insustentável.
“Se o preço final não cobre os custos fixos e marginais, é impossível garantir a continuidade do fornecimento”, sintetizou o diretor.
No entanto, nem tudo está perdido. Desde março de 2025, a indústria conseguiu reativar o diálogo com a Secretaria de Energia. Essa nova mesa de trabalho tem possibilitado trocas técnicas semanais e abriu a possibilidade de construir soluções conjuntas. A AIGLP considera que chegou o momento de desenhar um modelo regulatório inteligente, que combine controle de preços com sustentabilidade operacional.
Entre as propostas em discussão, destacam-se:
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A implementação de faixas móveis de preços, ajustadas com base em indicadores internacionais;
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Subsídios diretos para consumidores vulneráveis, em vez de controles generalizados de preços;
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Esquemas de investimento público-privado para modernizar a infraestrutura;
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E ações concretas para combater o roubo e a informalidade.
Fonte: Surtidores Latam – Sol Bermo