Em janeiro de 2025, a Argentina registrou um déficit de US$ 326 milhões em seu comércio bilateral com o Brasil. Esse é o maior saldo negativo desde 2018, quando ultrapassou US$ 400 milhões, e marca o sexto mês consecutivo de déficit, contrastando com o leve superávit de US$ 29 milhões registrado em janeiro de 2024.

Apesar disso, o intercâmbio comercial entre os dois países cresceu 34,2% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 2,098 bilhões. No entanto, o salto de 57,9% nas importações, equivalente a US$ 445 milhões, superou a expansão das exportações argentinas, que avançaram apenas 11,3% no ano, representando US$ 80 milhões.

O setor automotivo foi o principal fator por trás desse desequilíbrio. O déficit nesse segmento atingiu US$ 255,6 milhões, representando 57% do déficit comercial total com o Brasil.

“Este é um ano em que toda a indústria recupera seu fluxo comercial”, explicou Dante Sica, sócio-fundador da Abeceb e ex-ministro da Produção e Trabalho. Segundo o economista, a combinação de uma baixa base de comparação em janeiro de 2024, devido à recessão após a desvalorização de dezembro de 2023, o impacto da eliminação do Imposto PAIS sobre importações e a recuperação da atividade industrial impulsionaram o comércio bilateral nos últimos meses.

O boom importador foi alimentado, em grande parte, por compras de veículos e autopeças, que atingiram US$ 1,212 bilhão em janeiro, o nível mais alto desde 2021. Dessa forma, o setor automotivo demonstrou uma forte recuperação, com um aumento de 3.927,2% nas importações de veículos rodoviários, 184% em veículos de carga e 127,7% em veículos de passageiros, enquanto as importações de autopeças cresceram 25,5%.

O aumento das importações está ligado, principalmente, a um contexto de normalização do comércio exterior. “Em 2024, muitas empresas tiveram que renegociar com o governo para poder pagar suas dívidas comerciais. A falta de acesso a dólares paralisou as cadeias de fornecedores e interrompeu a produção. Agora, com o fluxo de pagamentos mais normalizado, as importações começam a se recuperar”, explicou Sica.

Por outro lado, as exportações argentinas para o Brasil atingiram US$ 886 milhões em janeiro. Assim, já acumulam oito meses consecutivos de crescimento, embora com desempenhos variados entre os setores. Enquanto o agronegócio mostrou fraqueza e o setor automotivo registrou quedas acentuadas, as indústrias química e petroquímica impulsionaram o crescimento, com altas expressivas em propano e butano liquefeito (+103,2%), polímeros de etileno (+405,1%) e álcoois e derivados (+218,5%), compensando parcialmente as quedas em outros segmentos.

“Se olharmos o histórico do comércio bilateral, a Argentina geralmente tem déficit com o Brasil. No entanto, com o crescimento do setor energético, podemos compensar isso nos próximos anos”, avalia o economista.

O ex-ministro destacou que o desenvolvimento de Vaca Muerta e a melhoria da infraestrutura de exportação permitirão aumentar as vendas de gás e eletricidade para o Brasil. Atualmente, o gasoduto que conecta os dois países depende da Bolívia, mas em dois ou três anos, a Argentina poderá exportar gás liquefeito diretamente para o Brasil, o que ajudaria a reduzir o déficit comercial.

Para os próximos meses, os analistas esperam que o déficit comercial com o Brasil continue em alta. Em períodos de alta demanda sazonal, como o atual, a Argentina também importa energia elétrica do Brasil. Estima-se que o saldo negativo possa superar US$ 4 bilhões em 2025, com crescimento das importações acima de 30% e das exportações entre 11% e 13% ao ano.

No cenário regional, a desvalorização do real também desempenha um papel fundamental. Embora em janeiro tenha apresentado uma leve recuperação, as tensões fiscais e a volatilidade global podem manter sua fraqueza frente ao dólar, afetando a competitividade argentina. Nesse sentido, Sica explica que o aumento do comércio bilateral se deveu mais à recuperação econômica do que à taxa de câmbio. Em média, 70% das exportações são impulsionadas por sinais de volume, e não de preço, indicando que a recuperação da demanda foi o principal fator por trás do crescimento do intercâmbio com o Brasil.

“Ainda que alguns setores menores dentro do comércio bilateral, como turismo ou têxtil, reajam mais rapidamente às variações cambiais, o impacto geral continua sendo determinado, em sua maioria, pela dinâmica do volume de comércio”, conclui.

Fonte: La Nación – Argentina