Em um mercado com preços regulados, toda a cadeia está sofrendo o impacto da inflação. Solicitam ajustes de acordo com os custos e alertam para o risco de desabastecimento.
Quatro em cada dez argentinos não têm acesso à rede de gás natural e utilizam gás liquefeito de petróleo, ou GLP (botijões de butano), para cozinhar e aquecer ambientes no inverno. Isso é significativo, pois essa quantidade de usuários inclui não apenas consumidores individuais, mas também escolas, hospitais, clínicas, clubes comunitários, diversos tipos de comércios, restaurantes, hotéis e inúmeras atividades que agora correm o risco de ficar sem abastecimento.
Como é comum na maioria dos setores, o aumento dos custos devido à inflação, somado a preços de venda regulamentados para o mercado interno, perda de rentabilidade e a obrigação de continuar abastecendo o mercado mesmo diante de grandes distorções de preços, leva as empresas, especialmente as pequenas e médias, a se debaterem entre operar com prejuízo ou fechar.
Há meses, no setor de envase, a voz vem sendo elevada, denunciando um atraso na atualização dos preços de venda ao público dos botijões, mas agora a situação pode estar atingindo um ponto crítico.
“Hoje estamos vendendo com níveis de preços abaixo dos custos“, afirmou Pedro Cascales, presidente da Câmara de Empresas Argentinas de Gás Liquefeito (CEGLA). Essa situação coloca em risco muitas empresas que, se deixarem de operar, afetariam o abastecimento de milhões de consumidores em todo o país.
Estima-se que a cadeia de produção inclui uma dezena de produtoras de GLP, lideradas por YPF, PAE, Pluspetrol, Mega, TGS e Raízen, além de cerca de 25 envasadoras, que empregam cerca de 6000 pessoas diretamente. Além disso, aproximadamente 400 distribuidoras, em sua maioria pequenas e médias empresas, abastecem o mercado com 75 milhões de botijões por ano para cerca de 20 milhões de usuários.
Mercado em crise
Ao ser questionado sobre o risco de desabastecimento do mercado, considerando que essa situação não é nova, ou seja, acumula rentabilidades negativas, Cascales buscou tranquilizar, argumentando que atualmente não é o caso porque estamos na temporada baixa e a demanda é menor, mas assegurou que “se não houver mudanças, haverá tensões nos próximos meses”.
Segundo dados da CEGLA, hoje, para cada botijão de gás butano de 10 kg, são perdidos $744. Esse dado decorre de uma estrutura de custos que, na zona norte do país (classificada como Zona II), possui um custo operacional total de $1792, no entanto, o governo autorizou a cobrança máxima de $1048.
A estrutura de custos dos envasadores, que recebem o GLP das petrolíferas, armazenam, envazam e enviam para os distribuidores, inclui 28% de GLP, 28% de transporte, 21% em mão de obra, 12% de produção, 3% de impostos e mais 7% de despesas não desembolsáveis.
Em 19 de outubro, diante da gravidade da situação, o setor mais uma vez solicitou à Secretaria de Energia um aumento nos preços de venda a partir de 23 de outubro, de 10%, tanto para os envasadores quanto para os distribuidores.
Dessa forma, os valores de venda de $1048 no segmento de envase de botijões de 10 kg (tomados como referência) e de $1839 para a distribuição permaneceram em vigor, chegando ao público por $1931, embora em muitas localidades esse valor chegue a até $3500 por botijão.
Tensão crescente
Todo o Nordeste do país e parte do NOA não têm acesso à rede de gás natural, então os usuários são obrigados a se abastecerem com botijões para poder cozinhar.
Estima-se que uma família típica consome apenas um botijão de 10 kg por mês para cozinhar, ou talvez de 12 a 15 kg se houver mais membros na família, resultando em uma despesa mensal não inferior a $3000. No inverno, podem consumir um segundo botijão para se aquecer, dobrando assim a despesa mensal.
No mercado, também estão os chamados “chanchas” de 45 kg e os cilindros, que usam gás propano, também um gás liquefeito derivado do gás natural, e que costuma ser utilizado para usos mais intensivos, no comércio ou em várias instituições.
“As empresas menores não conseguem continuar trabalhando; há pouco, uma empresa de pequeno porte, que estava há anos no mercado, fechou porque, ao operar com prejuízo, você vai consumindo o capital”, destacou Cascales.
No setor, eles reivindicam o cumprimento do que a Lei 26.020, sancionada em abril de 2005, estabelece em seu artigo 7, inciso d), que é necessário “proporcionar que o preço do GLP ao consumidor final seja o resultado dos reais custos econômicos da atividade nas diferentes etapas, para que a prestação do serviço seja realizada nas devidas condições de qualidade e segurança”.
Além disso, o artigo 34 estipula que os “sujeitos ativos tenham retribuição por seus custos eficientes e uma razoável rentabilidade…”, algo que não está sendo cumprido, na visão dos empresários do setor de envase.
“Hoje temos preços máximos e desatualizados”, reclama Pedro Cascales. Nesse sentido, ele apontou que a atividade tem “atualização de custos mensal e de acordo com a inflação, mas receitas aleatórias”, dependendo dos valores estabelecidos pela autoridade competente, que é a Secretaria de Energia. E pediu que haja uma atualização automática dos preços.
Fonte: Forbes Argentina